Ângela Maria Lorenzoni Sauthier
RESUMO
No presente trabalho, tem-se como proposta a
realização de um projeto interdisciplinar de leitura, partindo da análise de um
texto jornalístico, uma reportagem, retirada de um jornal local. Objetiva-se
integrar diferentes áreas do conhecimento, com o intuito de levar o educando,
público alvo deste trabalho, a processar uma leitura mais completa de um texto,
uma vez que, no ato de ler, todas elas contribuem, e por isso são necessárias,
para se construir o significado do texto. Nesse sentido, integraram-se as
disciplinas de Português, Matemática, História, Ciências e Educação Artística,
com a intenção de desenvolver os seus conteúdos previstos para o quarto ciclo
do Ensino Fundamental, partindo de um mesmo instrumento de leitura. Para isso,
contou-se com a colaboração dos professores da Escola Básica Estadual Dr. Paulo
Lauda. Com esta iniciativa, para a qual se buscou apoio teórico em Kleiman
& Morais(1999), Martins (1986), Trevisan (1992), Silva (19), foi possível
demonstrar que um mesmo texto pode ser explorado nas diferentes disciplinas,
proporcionando um trabalho inovador e atendendo às atuais perspectivas educacionais.
Palavras-chave: leitura, interdisciplinaridade, práticas sociais.
INTRODUÇÃO
Este trabalho surgiu em decorrência das minhas inquietações como
professora de Língua Portuguesa no Ensino
Fundamental há mais de dez anos. Durante esse tempo, tenho percebido a
dificuldade que os alunos têm em ler e entender um texto e também o
desinteresse que eles demonstram em relação à leitura. É muito comum não terem
consciência da importância da leitura, uma vez que ainda não puderam sentir os
seus benefícios como meio de obter conhecimento, cultura e, também, prazer.
Baseada nessas constatações fui levada a procurar as razões de tais
dificuldades e, ao mesmo tempo, buscar soluções para elas. Lajolo (1982)
entende que um dos motivos da defasagem de leitura apresentada pelos alunos
decorre das práticas docentes durante a sua escolarização, em que não se
priorizou o ensino e a promoção da leitura. Quando realizada sem nenhuma
relação com a realidade sociocultural do aluno, a leitura é vista apenas como
mais um tipo de atividade escolar da aula de Português. Segundo a autora,
quando são trabalhados textos, geralmente, esses se baseiam em fragmentos que
servem como objeto de estudo do conteúdo gramatical e não fazem sentido para o
aluno, que é levado a responder a questões cujas respostas estão previstas na
leitura do professor ou do autor do livro didático.
Sabendo que, por meio da leitura, o homem assume
aos poucos o controle de sua aquisição do saber e de sua formação e, dessa
forma, participa da sociedade em termos de compreensão e transformação de mundo
(SILVA,19), tornam-se urgentes medidas que venham não só ajudar os alunos na
compreensão de suas leituras como também despertar o seu gosto por essa
prática.
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs
(BRASIL, 2000), o tratamento disciplinar dado aos currículos das nossas
escolas, entendido como lógico e formal, distancia-se das possibilidades de
aprendizagem da grande maioria dos alunos, uma vez que não são suficientes para
alcançar o fim de educar para a cidadania. O tratamento desses conteúdos deve
integrar conhecimentos de diferentes disciplinas que contribuam para a
compreensão e intervenção na realidade em que vivem os alunos.
Apoiada nos PCNs procurei realizar um trabalho de
leitura integrado que envolve as demais disciplinas, pois acredito que não cabe
somente ao professor de Português abraçar essa causa, visto que, em última
análise, os demais professores também têm o compromisso de formar alunos leitores.
O trabalho tem como propósito, diante desse contexto,
fornecer aos alunos mais subsídios para compreender e obter um significado mais
completo do texto, por meio da interdisciplinaridade. Está apoiado numa proposta
de desenvolvimento de projetos interdisciplinares centrados na leitura, criado
por Kleiman & Moraes (1999).
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A CONCEPÇÃO INTERACIONISTA DE LEITURA
No mundo atual, a leitura, entendida como
compreensão e interpretação dos diversos gêneros de textos, é um instrumento
indispensável para se poder transitar com independência numa sociedade letrada.
Para Menezes et al. (2002), ler é dialogar com o texto no sentido mais amplo, uma
atividade que exige, basicamente, as habilidades de fazer perguntas a um texto,
de buscar respostas e saber onde encontrá-las.
Ao refletir sobre as funções da leitura, Silva (19)
lembra que, por produzir conhecimento, a leitura será um instrumento de combate
à alienação, se o leitor realizá-la de forma reflexiva e crítica,
contextualizando-a, fazendo relações com outras leituras e confrontando ideias.
O autor afirma que a leitura caracteriza-se como um dos processos que possibilita
a participação do homem na vida em sociedade, em termos de compreensão do
presente e passado e em termos de possibilidades de transformação sócias
cultural futuro. (p.20) Freire (1981) diz que lemos primeiro o mundo, depois a
palavra e que a leitura da palavra implica a continuidade da leitura do mundo.
Defende que ler não é, simplesmente, decodificar a palavra ou a linguagem escrita
e aponta para um conceito mais abrangente: a leitura do mundo.
Se ler implica ler o mundo, mesmo antes e até
depois de se ter acesso ao código escrito, pressupõe-se que toda a experiência
de vida do leitor esteja envolvida.
Nessa mesma perspectiva, Kleiman (1995) define a
atividade de leitura como uma interação à distância entre leitor e autor via
texto. Para a autora, a leitura é um ato social, entre dois sujeitos, obedecendo
a objetivos e necessidades socialmente determinados. Ela salienta que o leitor constrói
e não apenas recebe um significado global para o texto; ele procura pistas
formais, formula e reformula hipóteses, aceita e rejeita conclusões. Por sua
vez, o autor busca, essencialmente, a aprovação do leitor, apresentando, para
isso, os melhores argumentos, evidências convincentes, organizando o texto de
tal forma que atinja seus objetivos. Segundo Trevisan (1992), a interação leitor-texto,
que se estabelece no momento da leitura, vai depender de uma série de elementos
centrados no leitor, como o seu conhecimento de mundo, suas crenças, opiniões e
interesses, seus conhecimentos a respeito dos diferentes tipos de textos e dos
recursos linguísticos utilizados. A autora entende que a compreensão de um
texto se caracteriza pela utilização do conhecimento prévio, isto é, o leitor
utiliza na leitura o que ele já sabe, ou seja, o conhecimento adquirido ao
longo de sua vida. Portanto, diversos níveis de conhecimentos interagem entre
si: o linguístico, o textual e o conhecimento de mundo.
O conhecimento linguístico é aquele implícito que
faz com que falemos português como nativos. Abrange desde o conhecimento sobre como
pronunciar palavras em português, passando pelo conhecimento do vocabulário,
das regras gramaticais e do uso da língua. Trevisan (1992) e Kleiman (1995) compartilham
da ideia de que, ao considerar o conhecimento da língua, é preciso levar em
conta também o papel do contexto linguístico em que as marcas linguísticas
estão inseridas, pois este interfere na apreensão do sentido veiculado pelo
texto.
Com relação ao conhecimento textual, entendido como
o conjunto de noções e conceitos sobre diversos tipos de textos e formas de
discursos, Kleiman (1995) salienta que, quanto maior o conhecimento textual do
leitor, quanto mais ele for exposto a diferentes estruturas textuais, mais
fácil será sua compreensão. A autora lembra-se da importância de o leitor saber
reconhecer a estrutura do texto, pois esta oferece indicadores essenciais que permitem
antecipar a informação que contém e facilita a interpretação.
Isso se justifica pelas muitas expectativas que os
vários textos despertam no leitor.
Quanto ao conhecimento de mundo ou enciclopédico,
isto é, experiências acumuladas que os indivíduos adquirem durante a existência
e armazenam na memória, Kleiman (1995) lembra que este pode ser adquirido tanto
formal quanto informalmente. Com base nas ideias freireanas, salienta também
que, para haver uma compreensão na leitura, a parte relevante de conhecimento
de mundo deve estar ativada, num nível ciente e não perdida na memória.
Com relação a isso, Trevisan (1992) destaca que,
para haver a compreensão, é necessário certo equilíbrio entre o conhecimento de
mundo do autor e o do leitor. Com esses conhecimentos partilhados, o receptor é
capaz de dar sentido a informações novas por meio do processo de inferência. A
intertextualidade também é citada pela autora como um fator importante para o
entendimento, uma vez que se torna necessário que o leitor tenha conhecimentos
a respeito de outros textos incorporados. Ela enfatiza que não lemos só o que
está escrito, mas também, expressões humanas. Dessa forma, a leitura ultrapassa
o texto e começa antes de qualquer contato com ele.
Silva (19) diz que outras concepções do processo de
leitura estão sendo elaboradas e assumidas em nossa sociedade. Algumas
iniciativas vêm demonstrar a existência de muitas propostas alternativas para a
formação de leitores críticos, isto é, aqueles que descobrem o significado do texto
pretendido pelo autor da mensagem, mas não permanecem nesse primeiro nível,
eles reagem, questionam, problematizam. Essa criticidade leva o leitor à
construção de outro texto: o do próprio leitor.
PEDAGOGIA DA LEITURA
É indiscutível que, no trabalho escolar, a leitura
ocupe um lugar de destaque no processo de busca e produção de conhecimento.
Dessa forma, o ato de ler se faz necessário para professores e alunos, porém é
importante analisar em que condições e de que forma esse ato é conduzido no contexto
escolar.
No entendimento de Lajolo (1982), a leitura na
escola, ao invés de levar os alunos a um conhecimento profundo e crítico da
realidade, muitas vezes, serve de pretexto para o estudo de normas gramaticais.
Assim, a leitura passa a ser uma habilidade desligada do cotidiano do aluno e
apresenta-se como uma obrigação imposta pela escola, por não estar associada a
diferentes estruturas textuais que fazem parte do seu dia- a- dia. Dessa forma,
o ensino da leitura reflete a pedagogia da contradição, presente no contexto
escolar. Pretende-se que o aluno aprenda o todo em um texto fragmentado; quer
que ele seja um leitor crítico e participativo, fazendo com que responda apenas
ao que está previsto na leitura do professor ou do autor do livro didático.
Assim, o aluno lê sem entender, interpreta sem ter lido e realiza atividades
que não têm nenhuma função na sua realidade sociocultural (KLEIMAN, 1999).
Kleiman (1999) menciona o fato de que muitos textos
apresentados em algumas escolas, principalmente os inseridos nos livros didáticos,
pouco têm a ver com a realidade da sociedade. A autora sugere textos de revistas
e jornais por serem mais acessíveis tanto para o aluno como para o professor,
além de trazerem temas atuais como notícias e reportagens de interesse de
todos. Ela acredita que a ausência, em sala de aula, de textos que circulam
socialmente é uma forma de recusar a experiência do aluno como cidadão fora do
espaço escolar. Dessa forma, o ato de ler desvincula-se do seu objeto e
torna-se inexplicável, servindo apenas para suprir o requisito indispensável
para ascender novos graus de ensino e da sociedade, objetivando a realização
pessoal e econômica. Assim, pode-se perceber que há um esvaziamento das relações
entre a leitura e o texto, preenchido apenas com a ideia de aprender a ler para
prosperar economicamente. Silva (19) observa que “muitos professores ainda
tomam o ato pedagógico como sinônimo de leituras efetuadas, o que é restringir
muito ou distorcer completamente a dimensão e a abrangência desse ato” (p.6).
Para o autor, o ato pedagógico vai exigir muito
mais do que a leitura de determinados textos, é necessário estabelecer relações
dialógicas para a aproximação das pessoas e organizar o avanço cognitivo sobre
determinadas questões.
A metodologia de leitura é resultado do trabalho
com o texto. A princípio, consideram-se suas diversas estruturas, depois de
adequá-las ao contexto do leitor. Ele precisa ser desvelado e não descrito
simplesmente.
Para Zilberman & Silva (19), uma pedagogia de
leitura que pretenda agir na sociedade, pela transformação do leitor, não se apoia
na descrição da estrutura de um texto, mas sim, propõe, ensina e encaminha a
descoberta da função exercida pelo mesmo no receptor.
As instituições criadas pela sociedade, como a
escola e a linguagem, enquanto sistemas proporciona o exercício individual ou
coletivo da leitura. O funcionamento dessas instituições é dinâmico como a própria
leitura. A competência por parte da escola é que vai determinar o modo como
ocorrem as relações entre as classes sociais. A quantidade e a qualidade dos
produtos da linguagem que estão à disposição dos alunos indicam a orientação
conservadora ou democrática dos textos bem como da sociedade que os fabrica e
distribui (ZILBERMAN & SILVA,19).
Os autores acreditam que as instituições podem ser avaliadas pelos
projetos que possuem em relação à leitura. Eles
lembram que reproduzir a leitura, dar ênfase à paráfrase e fornecer interpretações
prontas é uma forma de compactuar com o sistema vigente, pois uma escola que
pretende realizar uma mudança social deve fazer com que a leitura dos textos se
transforme num instrumento de conscientização dos leitores.
LEITURA INTERDISCIPLINAR
A lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional -
LDB (BRASIL, 2000), conhecida como a nova LDB, rompeu com os paradigmas defendidos
pelas leis anteriores. Nelas, havia uma preocupação com a formação do eu, com a
humanização do educando, sob uma forte influência da psicologia comportamental,
a qual considerava a mente do aluno vazia, e em decorrência disso, a instrução
era programada.
O ensino da leitura restringia-se à decodificação
num processo ascendente, com o significado centrado no texto. O aluno estava na
condição de espectador passivo, de memorizador de conteúdos. Sua função era,
então, de decodificar, decifrar e digerir o texto. A partir da nova lei, a leitura
passou a ter uma abordagem diferente, sendo o significado do texto negociado
entre o leitor e o escritor, passando aquele a ser considerado um coautor do
texto.
Na nova LDB, está evidente a preocupação em formar
o aluno para viver em sociedade, por meios formais e informais de educar, entre
eles, a escola, a família, a associação de bairro etc. A função primordial da
escola é a de fornecer instrumentos necessários para que o aluno compreenda o
mundo em que vive e possa, progressivamente, assumir o controle do seu saber.
Atualmente, vários problemas são encontrados no
currículo escolar: fragmentação, linearidade e alienação do conhecimento e o
excessivo individualismo. Kleiman (1999) reforça a ideia de que existem
contradições no âmbito pedagógico: Difunde-se um conhecimento fragmentado e
exige-se um indivíduo por inteiro. Procura-se fazer com que o aluno memorize o
máximo de teoria possível, e cobra-se dele, no mercado de trabalho, a formação
prática necessária a uma boa atuação na empresa. Deixa-se o aluno fora do
processo, alienado, e exige-se um cidadão crítico, participativo, inserido no
contexto (p.14).
A lei enfatiza a aprendizagem a partir do
conhecimento prévio do aluno, e este deve mobilizar menos a memória e mais o
raciocínio. O educando deve ser incentivado a reconstruir o conhecimento. Para
isso, são importantes os conceitos de interdisciplinaridade e contextualização.
O diálogo entre os conhecimentos é permanente para
que o aluno aprenda, sob perspectivas diferentes, numa abordagem
interdisciplinar. Não se pode diminuir a importância dos conteúdos, pois as
áreas específicas possuem um cabedal de conhecimento acumulado ao qual o aluno
deverá também ter acesso. A tendência atual é a de minimizar os conteúdos para
que haja um equilíbrio entre o disciplinar e o interdisciplinar. A informação passa
a ser útil quando é colocada à disposição dos alunos para eles próprios utilizarem
aquilo de que precisam. Além disso, contextualizando os conteúdos, permite-se
estabelecer relações de reciprocidade entre o aluno e o objeto do conhecimento.
A interdisciplinaridade e a contextualização oportunizam lhe aprender a pensar,
a relacionar os conhecimentos com o seu cotidiano, a dar sentido ao aprendido e
captar o significado do mundo (KLEIMAN,1999).
A leitura, por sua natureza integradora de saberes e constitutiva da construção
de novos saberes, pode vir a exercer o papel da escola, pois oferece os
instrumentos necessários para que o aluno consiga compreender as informações
tão complexas do mundo atual.
Na perspectiva interdisciplinar, a responsabilidade
do ensino da leitura e da escrita deixa de ser exclusiva do professor de Português.
Parte-se da premissa de que os outros professores não são meros informadores, e
sim, formadores e também responsáveis pelo ensino da leitura, pois se sabe que
a escola é a mais importante instituição que introduz o aluno nas práticas de
uso da escrita na sociedade.
Nesse universo, a leitura pode ser objetivo e
instrumento de aprendizagem. Como instrumento, pertence a todas as disciplinas,
pois é a atividade na qual se baseia grande parte do processo de aprendizagem
no contexto escolar. Como objetivo, envolve a formação de atitudes, a valorização
da prática e a transmissão de valores, aquilo que é importante para as futuras
gerações.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
SELEÇÃO DE CORPUS
O objetivo desta análise é propor um trabalho
interdisciplinar de leitura, pois estão envolvidas diferentes áreas do
conhecimento, tendo como ponto de referência uma reportagem jornalística. O
texto jornalístico é uma das ferramentas de que se dispõe no momento de se
realizar uma atividade de leitura. Conforme Kleiman (1999), “os múltiplos modos
de apresentação da informação no texto jornalístico informativo possibilitam
engajar o aluno em diversas práticas sociais de leitura, segundo as
perspectivas das diferentes disciplinas” (p.101). Essa análise, portanto, tem
como base o estudo proposto por Kleiman (1999), adaptado para uma determinada
realidade, alunos da 8a série da Escola Paulo Lauda.
Também os PCNs (BRASIL, 2000) salientam que, para
estar em consonância com as demandas da sociedade atual, é necessário que a escola
trate de questões que interfiram na vida dos alunos e com as quais se veem
confrontados no seu dia-a-dia. Apontam, também, para a importância de se
discutirem, na escola e na sala de aula, questões da sociedade brasileira, como
as ligadas ao meio ambiente, à política etc. (Temas Transversais). A principal
função do trabalho com o tema meio ambiente, por exemplo, é contribuir para a
formação de cidadãos conscientes e aptos a decidir e a atuar na realidade
socioambiental de modo comprometido com a vida, com o bem-estar de cada um e da
sociedade, local e global. Somado a isso, a proposta apresentada sugere partir
de temas da atualidade que são matérias das notícias e reportagens nas revistas
semanais de informação e nos jornais diários, porque elas retomam assuntos de
interesse público.
Tendo em vista essa proposta, foi selecionada uma
reportagem publicada em um jornal local (Diário de Santa Maria) datada de 17 de
maio de 2004, que faz referência à poluição do Arroio Cadena, rio que atravessa
a cidade de Santa Maria. O título da reportagem é “Qual é a real situação de
Arroio Cadena? A poluição dele tem salvação?” (ANEXO I).
ETAPAS
O primeiro passo para a realização do trabalho foi
fazer contato com todos os professores da turma 87 (8a série) correspondente ao
4o ciclo, da qual esta pesquisadora é professora titular de Português, para
expor os objetivos da pesquisa e saber se eles estariam dispostos a participar.
Após muitas tentativas para se conseguir marcar uma
data em que todos pudessem estar presentes, foi possível fazer uma reunião
contando com a presença da professora orientadora e dos professores de
Matemática, História, Ciências, Português e Educação Artística.
Todos concordaram com a importância da leitura em
todas as disciplinas e manifestaram sua inquietação em relação à dificuldade
que os alunos apresentam em entender o que leem. Os professores demonstraram bastante
entusiasmo com a proposta de trabalho e se propuseram a “abraçar” esta causa.
Foi sugerida a eles a leitura de alguns capítulos
do livro Leitura e Interdisciplinaridade: Tecendo Redes nos projetos da Escola
das autoras Ângela Kleiman e Sílvia E. Moraes, em cuja teoria está embasada
esta proposta. Também foi disponibilizada a todos uma cópia da reportagem escolhida
e sugerido que eles estudassem a viabilidade de aproveitar o texto para serem
trabalhados os conteúdos compatíveis com a série em questão em cada disciplina.
Cada proposta de trabalho seria discutida em conjunto numa próxima reunião.
Novos encontros aconteceram e novas ideias foram
surgindo de forma que a proposta foi sendo incrementada. Os professores
passaram a discutir o texto, dentro de cada área de conhecimento. Assim, houve
a possibilidade de se trabalhar a interdisciplinaridade abordando um mesmo tema
em um mesmo texto por meio de uma reportagem.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A reportagem selecionada foi publicada na seção Especial do jornal
Diário de Santa Maria (17/05/2004) e assinado por Alves (2004), ANEXO -
1.
O texto destaca o nome da seção (Especial), o
título da matéria (Qual é a real situação do Arroio Cadena? A poluição dele tem
salvação?) e o subtítulo que resume a notícia (Morreu. Mas pode renascer.).
Esses três elementos aparecem em caracteres grandes. As imagens estão distribuídas
da seguinte forma: uma foto grande ao centro do texto, mostrando a nascente do
arroio com águas limpas e duas fotos menores, logo abaixo; a primeira mostra o
esgoto sendo jogado no arroio e a outra, o arroio totalmente poluído. Entre as
fotos, aparece a seguinte legenda: Vida e Morte.
Na nascente (acima), beleza e água limpa. Abaixo e
à esquerda, o esgoto do centro invade o curso do arroio que, na sua parte
final, é lixo, mau cheiro, leito seco e desolação (abaixo, à direita).
Assim, a mensagem verbal propriamente dita se
apresenta de três formas:
ELEMENTOS DESTACADOS
Elementos destacados: classificação, título,
subtítulo-resumo e frases em destaque Especial.
Qual é a real situação do Arroio Cadena? A poluição
dele tem salvação?
Morreu. Mas pode renascer.
LEGENDAS DESCREVENDO AS IMAGENS
Vida e morte. Na nascente (acima), beleza e água
limpa. Abaixo e à esquerda, o esgoto do centro invade o curso do arroio que, na
sua parte final, é lixo, mau cheiro, leito seco e desolação (abaixo, à direita).
CORPO DO TEXTO (ANEXO 1)
Os professores passaram a discutir o texto dentro
nas seguintes áreas do conhecimento: Português, Matemática, História, Ciências
e Educação Artística.
Língua Portuguesa
O ensino do Português tem como objetivo propiciar
ao aluno oportunidades de vivenciar a linguagem como uma prática social. Esse
ensino deve utilizar-se de textos por meio dos quais os alunos terão acesso aos
diversos gêneros existentes. Dessa forma, a simples prática social de leitura
já atenderia às exigências curriculares desta área (KLEIMAN, 1999).
A prática de leitura da reportagem é uma atividade que também põe
o aluno em contato com diversos modelos de
estruturação da informação verbal, um objetivo importante na aula de Português.
Por exemplo, a reportagem descreve, de forma chocante, um arroio totalmente
poluído, como no trecho a seguir: Nos últimos 40 anos, o leito do Cadena vem recebendo
muita sujeira. Das garrafas pet que flutuam aos montes, até sofás que já não
serviam mais e os donos não encontraram lugar melhor para colocar. Mas há um
tipo de lixo que é ainda mais grave do que este que boia a olhos vistos. É o
esgoto. Há também trechos narrativos que fazem referência a um projeto de revitalização
do Arroio Cadena: para a recuperação que consta no Programa de Desenvolvimento
Sustentável são pleiteados cerca de US$12 milhões financiados pelo Banco
Mundial
(Bird). O projeto foi encaminhado no final do ano
passado ao Ministério do Planejamento e, depois, ao Senado, onde já foi
aprovado. Agora está passando por uma análise técnica no Ministério da Fazenda.
A próxima etapa será a aprovação por um fundo do Banco Mundial.
Também em relação ao ensino do Português, a
reportagem em questão se utiliza de outros elementos específicos da área, como
a técnica da narração, mais especificamente mostrando o discurso direto como no
exemplo: - O Cadena já está numa situação tão ruim que nem pode mais piorar. É
um arroio morto, totalmente deteriorado. - afirma o engenheiro florestal José
Sales Mariano da Rocha, doutor em manejo integrado de Bacias Hidrográficas,
livre-docente em Projetos Ambientais e professor da UFSM; e também poderão ser
trabalhados os níveis de linguagem (formal/coloquial). No trecho: Morreu. Mas
pode renascer e Vida e Morte, poderão ser explorados os efeitos de sentido
produzidos pelo emprego da linguagem figurada (linguagem conotativa /
denotativa e figuras de linguagem).
Matemática
O texto traz dado, como no primeiro parágrafo, A
frieza para falar sobre o curso d’ água que corta a cidade, passando por 16 dos
seus 25 bairros não é exagerada, que poderiam ser trabalhados em conteúdos
específicos, como a porcentagem. Os alunos calculariam o percentual de bairros da
cidade que são banhados pelo Arroio Cadena.
Além disso, na passagem para a recuperação, que
consta no Programa de Desenvolvimento Sustentável, são pleiteados cerca de
US$12 milhões, financiados pelo Banco Mundial (Bird); para que o aluno entenda o
que representa essa quantia em reais, poderá ser desenvolvido o conteúdo regra
de três. Em outro trecho, O projeto prevê, entre outras ações, realocação de
cerca de 1,3 mil famílias da beira do Cadena, o conteúdo Potência de Base Zero esclareceria
o que representa essa quantia (Padronização Científica).
Ciências
O texto trata de um tema de interesse das Ciências,
o que dispensaria outras relações. O segundo parágrafo do texto menciona um
tipo de lixo que bóia a olhos vistos que é o esgoto. No terceiro parágrafo, há
a informação de que Santa Maria trata apenas metade do esgoto produzido por
seus mais de 250 mil habitantes. Aqui poderiam ser estudados o saneamento
básico e a poluição com coliformes fecais. O texto menciona que o único local
poupado fica cerca de 200 metros logo depois da nascente. Trata- se de um bom
exemplo para a introdução ao estudo da Física (unidades de medida). O texto
propicia também o trabalho de atitudes preventivas, sociais e comunitárias e de
procura de soluções a médio e longo prazo para o problema em questão, como
também o desenvolvimento da criticidade dos alunos perante suas atitudes
diárias em relação ao meio ambiente.
História
No segundo parágrafo da reportagem, há informações
sobre a temporalidade da poluição do Arroio Cadena. Os alunos poderiam
pesquisar quais foram os primeiros povos que habitaram a região e qual a sua relação
com o arroio. Com referência ao lixo, os alunos poderiam pesquisar em que
momento da história aconteceu o surgimento desenfreado do arroio. O texto ainda
menciona que o fato de Santa Maria ser uma cidade universitária e não
industrial torna a poluição do Arroio reversível. A partir dessa afirmação, é
possível trabalhar o surgimento das cidades a partir da Revolução Industrial;
descrever as vantagens e desvantagens de a cidade possuir poucas indústrias e
entender o funcionamento do Programa de Desenvolvimento Sustentável, como
conciliá-lo com a crescente industrialização do mundo.
Artes
O texto mostra três fotos atuais do Arroio Cadena
em momentos diferentes: a primeira, a nascente com águas límpidas; a segunda, o
esgoto tomando conta do arroio e a última, o arroio totalmente poluído. Os
alunos poderiam fazer uma pesquisa de fotos antigas e atuais do arroio. Após, fariam
um desenho representando sua situação atual. Depois de fazer uma releitura das
fotos antigas e atuais dos locais fotografados, os alunos fariam um desenho de
como eles imaginariam que estivesse o arroio hoje, sem poluição.
CONCLUSÃO
A escola precisa formar indivíduos críticos,
letrados e capazes de seguir aprendendo pelo resto de suas vidas. Para isso, é
necessário desfazer as fronteiras rígidas existentes entre as disciplinas, que
fragmentam o saber do aluno, impedindo-o de construir seu conhecimento por seus
próprios meios.
Acredito que a leitura interdisciplinar é uma forma de romper com a
fragmentação das disciplinas e de proporcionar ao aluno uma visão do todo
através da interação de vários saberes.
A realização deste trabalho de leitura
interdisciplinar teve resultados positivos pelo comprometimento dos professores
participantes com a proposta apresentada a eles. Apesar das precárias condições
de execução, propuseram-se a colaborar para repensar sua prática, pois são
profissionais receptivos a novas possibilidades de trabalho. A referida
proposta não foi executada. Limitou-se a indicar uma forma de trabalho
integrado entre as disciplinas, porém a intenção é de colocá-la em prática no
próximo ano letivo, na série para a qual foi pensada.
Reafirmo assim que a leitura é uma atividade que
merece ter lugar destacado na prática escolar, portanto, deve ser ensinada por
todos os professores, em todas as matérias. Por tratar-se de um trabalho
coletivo, de equipe, os professores precisam ter humildade e disponibilidade de
troca para que os conteúdos de suas disciplinas possam ser integrados com os das
demais. A escola, por sua vez, precisa dar condições para que esse tipo de
atividade seja realizado, possibilitando o acesso a textos que circulam socialmente,
como revistas semanais de informação e jornais diários, e também disponibilizar
tempo para que os professores possam se reunir e discutir o trabalho proposto.
Não tenho dúvida de que trabalhar com leitura
interdisciplinar requer planejamento e troca de informações, e, certamente,
todos serão beneficiados. Os alunos serão capazes de compreender o texto de
forma integral, de relacionar seus saberes e de aprender a trabalhar em equipe.
Os professores serão incentivados a ampliar os seus conhecimentos em outras
áreas e a melhorar o relacionamento entre os colegas. A escola estará engajada
nas propostas dos PCNs que sugerem contrapor a fragmentação e a linearidade do
currículo à interdisciplinaridade e neutralizar o excessivo individualismo
quando se propõem trabalhos coletivos. Assim, estaremos formando cidadãos
melhores, preparados para participar da sociedade em que estão inseridos.
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interdisciplinares.
São Paulo: Ática, 19. p.111-115.
QUAL É A REAL SITUAÇÃO DO ARROIO CADENA?
A POLUIÇÃO DELE TEM SALVAÇÃO.
Morreu. Mas pode
renascer.
Um arroio morto. É assim, sem
pompa nem circunstância que pode ser definida a situação do Cadena. A frieza
para falar sobre o curso d’água que corta a cidade passando por 16 dos seus 25
bairros não é exagerada.
Nos últimos 40 anos, o leito do
Cadena vem recebendo muita sujeira. Das garrafas pet que flutuam aos montes até
sofás que já não serviam mais e os donos não encontraram lugar “melhor” para colocar.
Mas há ainda um tipo de lixo que é ainda mais grave que este que boia a olhos
vistos.
É o esgoto.
Santa Maria trata apenas metade do
esgoto produzido por seus mais de 250 mil habitantes. O resto vai para o Cadena
ou para algum de seus afluentes, o esgoto toma o seu rumo natural e desemboca
no Cadena.
Nas vilas da cidade que são
margeadas pelo Cadena como Renascença, Lídia e Oliveira, não é preciso esforço
para ver a agressão. Os casebres à beira do arroio tem ligação direta do seu
esgoto para a água.
Mas não são apenas as vilas
ribeirinhas as responsáveis por tanta poluição. Ao contrário do que se pode
pensar, elas são poluidoras em menor volume.
A maior parte do esgoto que chega
ao cadena vem da área central da cidade. O edifício taperinha é um exemplo com
seus 14 andares e cerca de 200 moradores, despeja no cadena todo o esgoto que produz.
Essa realidade torna a situação crítica.
Um levantamento da Universidade
Federal de Santa Maria (UFSM) e do Ibama, feito no final da década de 90,
encontrou coliformes fecais e bactérias nocivas a saúde em praticamente todos
os pontos analisados ao longo dos 30Km de extensão do arroio.
O único local poupado fica aos
cerca de 200 metros logo depois da nascente, no bairro perpétuo Socorro. No restante
da última análise pra cá, o problema só piorou.- O Cadena já está numa situação
tão ruim que nem pode mais piorar. É um arroio morto, totalmente deteriorado -
informa o engenheiro florestal José Sales Mariano da Rocha, doutor em manejo integrado
das Bactérias Hidrográficas, livre-docente em Projetos Ambientais e professor
da UFSM.
Sem
indústria, há menos poluição
Mesmo que a poluição perpasse
rodo o curso do Cadena, existe esperança para o arroio. A condição de Cidade
Universitária e sem vocação para indústria, no aspecto ambiental, torna reversível
o drama do Cadena. Durante os 40 anos em que o arroio vem sendo utilizado com
mais intensidade como depósito de lixo e esgoto da cidade, ele teve a sorte de
não receber resíduos industrializados.
Este é um dos fatores que dá aos
ambientalistas a certeza de poder recuperar todo o leito. - É possível ressuscitar
o Cadena. Com a execução de um projeto completo, aplicado de maneira correta,
ele pode voltar a ser um arroio limpo, com vida, dentro da cidade. - assegura
Rocha.
A informação é um alento. Mas,
apesar de ser possível, a recuperação não será real se não contar com o
comprometimento dos administradores públicos e de todos os cidadãos santa-marienses.
Um projeto importante e bem caro.
Recuperar o Cadena é uma boa
intenção que esbarra em cifras monstruosas. A prefeitura tem um programa em
andamento para revitalização do arroio, mas anda na fase inicial, que é também
uma das mais difíceis, a busca de dinheiro.
Para a recuperação que consta no
Programa de Desenvolvimento Sustentável são preiteados cerca de US$ 12 milhões,
financiados pelo Banco Mundial (Bird). O projeto fo encaminhado no final do ano
passado ao ministério do planejamento e depois ao Senado, onde foi aprovado.
Agora está passando por uma análise técnica no Ministério da Fazenda. A próxima
etapa será a aprovação por um fundo do Banco Mundial.
É nesse projeto que a prefeitura aposta
suas fichas. A verba, se for conquistada, será usada conforme o engenheiro
florestal e assessor da Secretaria Municipal de Gestão Ambiental, Luiz Geraldo
Cero, para um trabalho completo.
O projeto prevê entre suas ações,
a realocação de mais de 13 mil famílias da beira do Cadena, tratamento de 100%
do esgoto da cidade, construção de um parque ecológico na margem do arroio e
limpeza do leito com sistema de contenção e remoção do lixo.
Nada se
conseguirá sem educação ambiental.
Outra ação prevista é de
conscientização. A meta, nesse ponto do projeto é contar com a ajuda das
escolas para que eduquem as crianças e para que repassem o conhecimento às suas
famílias.
Caso seja aplicado, o projeto
deve levas cerca de cinco anos para chegar à fase final e ter seus efeitos
prontos para serem conferidos.
Para Santa Maria uma das vantagens
de recuperar o Cadena seria ter um arroio limpo, atravessando boa parte da
extensão urbana, ao contrário do foco de contaminação e de doença que ele representa
hoje. O Cadena sujo, com lixo boiando na superfície será substituído por um
arroio com vida. Ele passaria, ao invés de envergonhar, a orgulhar e ajudar os
santa-marienses.
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