Ciclo tem o Desafio de Superar o Fracasso da Educação Seriada
Responsabilizada equivocadamente pelos índices de aprendizagem registrados nas pesquisas nacionais e até internacionais, a organização por Ciclo de Formação Humana apresenta o desafio de alterar a história de fracasso promovida secularmente pela organização seriada e consolidar o ensino-aprendizagem com qualidade. Após treze anos de implantação, essa prática pedagógica inclusiva tem garantido o respeito às diferentes fases de desenvolvimento humano.
A
constatação desses fatos está no Índice de Desenvolvimento da Educação
(Ideb-2014) que revelou bons resultados no Ensino Fundamental e ainda desafios
ao Ensino Médio, no Estado de Mato Grosso. Parte desses bons resultados
refere-se à democratização do ensino com o direito ao acesso e permanência nas
escolas para mais de 97% da população em idade escolar. Meta ainda não
alcançada para o Ensino Médio, onde a evasão e/ou reprovação na rede estadual,
é de 32%.
Muito
mais do que garantir índices publicamente aceitáveis, porém, os educadores
cobram índices sociais da educação. “Será que nossas escolas conseguem ser
traduzidas pelos índices? Quando a escola recebe o índice ela se enxerga,
reconhece sua identidade com o índice?”, questiona a professora doutora da
Universidade de Mato Grosso (Unemat), Maria Clara Ede Amaral.
Para a
professora, a implantação do Ciclo tirou o pilar de sustentação dos
instrumentos de poder que existiam na escola – avaliação e reprovação. Como
consequência, acabou alguns professores se apropriaram de um conceito de
desresponsabilização. “Então, está bem, não preciso fazer nada porque eu não
posso reprovar o aluno outro professor que se vire com ele” e o mito de que
"já que não posso reprovar", não há como estímular para aprender.
Conforme
a pesquisadora, a avaliação no Ciclo é ainda mais qualificada do que aquela
praticada no modelo seriado. Exige mais dos profissionais que por meio dos
relatórios descritivos devem demonstrar conhecer como cada aluno aprende e
quais desafios apresenta individualmente. ”O caderno de campo é muito mais
difícil de ser feito no cotidiano da escola, mas é preciso buscar maneiras de
registrar o que acontece”, destaca.
Proposta
pedagógica exige renovação nas metodologias educativa
Os
equívocos e desafios para a consolidação da organização curricular por Ciclos
de Formação Humana não devem ser o motivo para a desistência ou condenação
dessa atual política de currículo. “Se a prática anterior (seriada) fosse
positiva, não teria gerado tantos semianalfabetos no país”, destacou o
presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Educação Pública, Henrique Lopes
do Nascimento. Por sua vez os professores acreditam que os Ciclos são o
responsáveis pelo atual desinteresse na aprendizagem. A professora Joana
Oliveira, por exemplo, relata que durante as aulas é comum ouvir dos estudantes
que não vão fazer tarefa ou estudar porque vão “passar de ano” de qualquer
maneira. “Os jovens estão sem interesse”, relata.
Para os
gestores e coordenadores escolares, a dificuldade está no fato de apenas um
articulador trabalhar com os diferentes tipos de defasagem que os estudantes
apresentam. “Vão para a Sala de Articulação estudantes com déficit de
ensino-aprendizagem, bem como aqueles com dificuldades oriundas de algum tipo
de deficiência”, destaca a coordenadora da Escola Estadual Malik Didier, em
Cuiabá, Sérgia Novaes.
A
unidade tem aproximadamente 700 matrículas no 2º e 3º ciclos (do 4º ao 9º ano).
Do total, pelo menos 200 frequentam a Sala de Articulação. “Temos muitos alunos
novos, transferidos de outras redes que precisam ser enturmados e trazem
desafios de aprendizagem”, destaca a articuladora, professora Danuza Correa.
Para a
professora, os enfrentamentos estão relacionados à falta de formação dos profissionais
quando o Ciclo foi implantado, poucos foram os que participaram dos encontros.
Soma-se a isso, a grande flutuação de profissionais na unidade, que fragmentam
e não dão continuidade aos trabalhos e, ainda, a ausência em muitas escolas da
Sala de Articulação e de Superação. Como se não fosse suficiente esses desafios
estruturais, os profissionais se confrontam com outras situações de ordem
social vivenciadas pelos estudantes.
O
presidente do Sintep-MT, Henrique Lopes, valida os argumentos da articuladora.
Segundo ele, quando foi implantada no Estado, essa organização ofereceu
estrutura mínima, assegura pela lei nº 262/2002 do Conselho Estadual de
Educação (CEE). “O Sintep vem promovendo discussões com os diferentes segmentos
da Educação envolvidos para buscar a efetiva prática do Ciclo”, argumenta.
No
entanto, Lopes acredita que o novo Plano Nacional de Educação contribuirá com a
consolidação de estruturas mínimas, pois discute custo/aluno/qualidade para
garantir a qualidade da educação, dentre elas a jornada única para os
profissionais, educação em tempo integral, currículo inclusivo. Assim, os
resultados na aprendizagem vão so frer mudanças.
Práticas
revelam a superação da defasagem idade/ano
A escola
de campo, da rede estadual, João Florentino da Silva Neto, em Cáceres, é uma
das unidades que encontrou caminhos para corrigir os problemas de defasagem no
Ciclo de Formação Humana e assegurou aos estudantes o direito de aprender. O
relato da experiência vivenciada por essa comunidade escolar e de outras
integrarão um caderno de práticas inclusivas e democráticas da organização por
Ciclos de Formação em Mato Grosso que será publicado em breve pela Seduc.
A
vivência relatada no Caderno foi escrita por Marta da Silva Duarte, responsável
pela biblioteca da escola na época, e pela professora Sônia Andrade da Silva.
Ambas trabalharam com ações pedagógicas que garantiram a inclusão dos
estudantes com defasagem. Ao todo onze estudantes participaram do projeto de
articulação.
Para
iniciar as ações, as professores desenvolveram estratégias pedagógicas para
auxiliar as aprendizagens. “Alguns dos estudantes não conheciam a grafia nem
mesmo do próprio nome”, relata Marta. Foi preciso o acompanhamento individual,
na sala de articulação, para que pudessem integrá-los ao Ciclo e assim dar
continuidade aos estudos, “o que foi feito com sucesso”, diz.
Na escola
Nadir de Oliveira, em Cuiabá, foi criada uma sala de Superação. Em 2012, havia
cerca de 20 estudantes com sérios desafios de aprendizagem e com defasagem idade/fase/ciclo.
Segundo o professor da superação, João Gonçalo Nascimento, os alunos
“apresentavam dificuldades em escrever o próprio nome”, além do fato de a
grande maioria apresentar sérios problemas de comportamento, o que esclareceria
parte da defasagem apresentada.
O
acompanhamento, inclusive buscando a família para participar do processo,
contribuiu para as mudanças. “Hoje alguns desses estudantes continuam estudando
na escola e mesmo não estando mais na superação ainda os acompanho”, diz.
Segundo o professor não basta trabalhar com a defasagem da aprendizagem, é
preciso cumprir uma lacuna socioemocional desses estudantes para obter
resultados. “São realidades familiares distintas, mas na maior parte das vezes
os pais não têm como fazer o acompanhamento das tarefas. A escola fica com essa
incumbência”, esclarece.
Aulas
diferenciadas, bem planejadas e criativas são ferramentas necessárias para o
trabalho com a as defasagens. “Não adianta mais do mesmo, se eles já tiveram
dificuldades de aprendizado pelo modelo regular”, diz.
Caso
semelhante foi registrado na Escola Estadual Dom Francisco de Aquino, em
Cuiabá. A aluna V.D, 13 anos, foi inserida na turma de 5º ano, apresentando
inúmeros desafios de aprendizagem e encaminhada para a Superação. Trabalhadas
as dificuldades que trazia desde os Ciclos iniciais, hoje cursa o 8º ano na
escola, com desafios comuns à fase, destaca a coordenadora Suelena Aparecida de
Moraes Spinosa Novaes.
Notícias
da Semana
Nenhum comentário:
Postar um comentário